O Carmelo Teresiano já era florescente em terras brasileiras, contando com mosteiros em vários estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Ceará, que abrigavam muitas vocações de Carmelitas nascidas em Minas Gerais, quando surgiu em Belo Horizonte, capital, com poucos lustros de existência, o primeiro Carmelo.
Antecedentes
Circunstâncias muito fortuitas serviram de meios para se realizar a fundação do Carmelo Nossa Senhora Aparecida, de Belo Horizonte. Assim, uma pergunta e um bilhete da loteria federal ajudaram aos desígnios insondáveis da providência divina.

A idéia estava asilada há muito tempo no coração de Dom Antônio dos Santos Cabral, o primeiro arcebispo da capital mineira, que desejava um Mosteiro de Carmelitas "para sustentar com suas orações e penitências tantas e tão múltiplas atividades apostólicas". A pergunta espontânea foi dirigida por um jovem sacerdote Pe. Cristiano de Araújo Pena ( bispo-emérito de Divinópolis, já falecido), a Monsenhor Messias de Sena Batista, então Diretor Espiritual do Seminário de Belo Horizonte. Tivera Monsenhor Messias ocasião de atender uma Carmelita mineira no Carmelo Santa Teresa do Rio de Janeiro. Até então ignorava totalmente a vida das Carmelitas. Por isto, quando no trem, de volta, expandia-se com Pe. Cristiano, este lhe perguntou: "Por que não funda o Senhor um Carmelo em Belo Horizonte?"
Levou Monsenhor Messias a interrogação para as horas de recolhimento e de oração e começou a transmiti-la nos retiros que pregava ou na direção espiritual, muito procurado que era por amplo círculo de pessoas de todas as classes sociais. A semente caía em boa terra, mas eram necessários meios para a ereção de um Carmelo.
Foi quando a providência divina interveio. Frei Paulo Maria (Cornélio Pinto da Fonseca), carmelita descalço, natural de Minas, que se encontrava em São Paulo, escreveu, a 5 de maio de 1939, uma carta a Monsenhor Messias apresentando uma moça que oferecia uma quantia elevada para a fundação de um Carmelo, de preferência em Minas Gerais. A notícia foi logo levada ao Arcebispo, mas o que só depois se saberia é que o dinheiro prometido ainda era um bilhete de loteria à mercê da sorte! Com uma fé que se poderia dizer temerária, Lali Bueno Salles, que já estivera em dois Carmelos, mas não pudera ficar por causa da saúde debilitada, forçava os céus para obter a grande graça de fundar um Mosteiro, onde concretizasse sua vocação. Reuniu os sobrinhos e fazia uma espécie de novena ao Menino Jesus de Praga, todos repetindo em coro o refrão ditado por ela: "Menino Jesus, eu quero". E a sorte grande, um bilhete da cobra, lhe caiu com o primeiro prêmio.
Dom Cabral recebeu a notícia da oferta com grande júbilo e logo colocou à disposição um terreno situado na Vila Futura, do Bairro Carlos Prates. Mais tarde a Vila passou a ser o Bairro Monsenhor Messias.
Além do levantamento de recursos, pois os recebidos eram insuficientes, precisava-se de alguém que tivesse ampla prática de construção e principalmente entendesse o espírito que norteasse a fundação de um Carmelo. Surgiu então o administrador que seria o eixo sobre o qual gravitariam todos os trabalhos: O Sr. José Ferreira Gonçalves. Por um voto consagrou grande parte de seus dias não só à construção, mas a tudo o que concerniu à vida das Carmelitas, pertencendo também à família carmelitana, como membro da Ordem Terceira. O que houve também de muito singular é que se cuidou de plantas e projetos, sem certeza nenhuma das pedras vivas, as Carmelitas fundadoras. Até então tudo fazia crer que elas viriam do Carmelo Santa Teresa do Rio, pois as orientações recebidas para a construção estavam sendo dadas por Madre Maria José de Jesus, Priora do Carmelo daquela cidade.
A Fundação
A pedra fundamental foi lançada solenemente no dia 12 de dezembro de 1939, quando a capital mineira comemorava seu 42º aniversário de criação. Os trabalhos se desenvolveriam com tal eficiência e rapidez que, em breve, tudo estaria em condições para receber as monjas fundadoras. Situado numa colina, com poucas casas de operários em redor, ficava numa região pobre, dominando a cidade, com a vista dos belos horizontes que justificam a sua denominação. Atualmente a população de classe média constitui os habitantes do bairro.
Quem seriam as fundadoras? Um pedido oficial foi encaminhado a Dom Sebastião Leme, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro. S. Emcia., no entanto, não deu a licença, alegando a situação em que se encontrava o Mosteiro de Santa Teresa: muitas anciãs e escassez de vocações. Temia, além disto, que houvesse falta de recursos para a manutenção das monjas na nova capital mineira.
Dom Cabral não desanimou. Recorreu ao Arcebispo de São Paulo, que anuiu imediatamente ao pedido e deu ordens ao Carmelo daquela cidade para fornecer as fundadoras. Outro acontecimento singular: a instantes rogos de Lali Bueno Salles, a mesma que forçara os céus para a sorte grande, foi conseguida graça não menor, no restabelecimento da saúde para a futura Priora, Madre Gema da Eucaristia, até aquela data muito enferma.
O rescrito para a fundação foi datado em 18 de abril de 1941, sob o protocolo 1686/41. Foram designadas para a fundação, além de Madre Gema da Eucaristia (Galiana Americano do Brasil), Madre Maria de São José (Diva Antunes Carneiro), Subpriora; Ir. Maria Ângela do Menino Jesus (Maria Alice Hummel de Andrade), Ir. Ana de São Bartolomeu (Nazareth Maria Fargnoli) e a postulante Maria de Santo Alberto (Carolina Barbosa). As candidatas Cecília Navarro Vieira, Luiza Santos, coristas; Adélia Meira e Teresa Jotta, veleiras, entrariam as primeiras, ao se inaugurar o noviciado; e as segundas, no próprio dia da fundação.
Na manhã de 16 de julho de 1941, solenidade de Nossa Senhora do Carmo, após a Missa presidida por Dom Antonio dos Santos Cabral e assistida por numerosos sacerdotes e seminaristas, e grande afluência de pessoas da sociedade belorizontina, foi declarada, pela portaria do Sr. Arcebispo, estabelecida a fundação e encerrada a clausura. O Carmelo recebeu a denominação de NOSSA SENHORA APARECIDA E SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS. Depois o nome reduziu-se a Nossa Senhora Aparecida, ficando Santa Teresinha como titular da capela, conforme as exigências das atas de doação.
O Mosteiro
Construção sólida, com o estilo dos anos 40, o Mosteiro caracteriza-se por arcadas romanas no passadiço externo e no claustro interior. As acomodações são amplas, mas sóbrias e de aspecto austero. Ao ser inaugurado ainda não possuía Capela. Esta funcionava em um dos locutórios que, na parte da clausura, fazia as vezes de Coro.
A Capela, que segue as mesmas linhas do Mosteiro, com arcos interiores de alvenaria, foi inaugurada a 15 de outubro de 1944. Sua construção foi providencialmente oferecida pelo casal D. Julieta Salles Coelho e Dr. Ênio Salles Coelho.
O que se destaca no interior da clausura é o coro das Religiosas. O projeto barroco de Antonio Perktold foi sacrificado por apresentar muita suntuosidade. Ficaram as estalas, lambris e a concha do altar, em imbuia escura, em cujas linhas de beleza se pressentem vestígios do projeto original. Quadros da Via-Sacra, com molduras de acordo, completam a decoração. Os trabalhos do coro só foram realizados em 1957, ultimando-se a 24 de novembro daquele ano.
O Mosteiro não possui cemitério em seu interior. As monjas são sepultadas em jazigo próprio, na necrópole do Bonfim, vindo depois os ossos em urnas para um eremitério.
Conta o Carmelo com acomodações externas, tanto para Padres que eventualmente se hospedem, como para pessoas que solicitem dias de recolhimento. A portaria foi preparada em vista de ter irmãs veleiras, que realmente prestaram relevantes serviços, durante muitos anos, extinguindo-se sua existência, ou por entrarem as Irmãs para fazerem parte das Monjas de clausura, ou por parte de vocações.
Além do coro, que é de construção artística, possui o Carmelo um grupo de imagens representando um Calvário: o Crucificado, Nossa Senhora e São João Evangelista, de um artista alemão.
Acontecimentos Notáveis
A Comunidade já empreendeu três fundações: o Carmelo Imaculada Conceição, na cidade de Divinópolis, a 7 de setembro de 1966; o Carmelo Maria Mãe da Igreja e Paulo VI, em Montes Claros, a 8 de setembro de 1978; o Carmelo da Imaculada Conceição, em Sete Lagoas, a 14 de setembro de 1985, todos em Minas Gerais. Deu também grande ajuda à fundação e estabelecimento do Carmelo Maria Mãe da Igreja, em Olinda (PE), em fevereiro de 1970.
O Carmelo Nossa Senhora Aparecida já serviu várias vezes para reuniões entre os Mosteiros de Minas Gerais e do Nordeste. Um dos encontros foi presidido pelo Frei Tarcisio Ancilli, quando era Definidor Geral da Ordem dos Carmelitas Descalços. Em 1979, a Comunidade recebeu a honrosa visita do Padre Geral Frei Felipe Sãinz de Baranda, para estudos sobre as "Declarações" e maior aprofundamento das propostas para maior união entre os Carmelos. Outro Superior Geral a visitar o Carmelo foi o Frei Anastasio do Santíssimo Rosário. Os laços que unem as Carmelitas Descalças aos Frades Carmelitas Descalços são de grande fraternidade. Elas contam com a ajuda espiritual dos Religiosos, tanto no serviço da capelania como por conferências e acompanhamento em todos os acontecimentos, o que as faz sentirem-se membros da mesma família que tem Santa Teresa como Mãe e Fundadora.
Também dois núncios apostólicos visitaram o Carmelo: D. Carlo Chiarlo e D. Sebastião Baggio. Os arcebispos de Belo Horizonte sempre distinguiram o Carmelo com solicitude paternal.
Fonte:
Resumo de um texto redigido por Madre Maria Margarida do Coração de Jesus, que se baseou em crônicas conservadas no arquivo do Carmelo Nossa Senhora Aparecida, com anotações diárias desde os antecedentes da fundação de 1939.