Soneto de Madre Gema



Meu sonho é desfolhar-me aos poucos, lentamente, 

Sentir no coração a dor defenecer...

Jesus, se vos apraz, deixai-me humildemente

Chorar de cada pétala o lento desprender.

 

Não sonho em minha vida o amor que alegremente

Em plena juventude a palma vai colher!

Eu quero o amor unido à dor que é mais pungente,

A dor da humilhação: murchar, depois morrer!...

 

A pétala descorada é a lágrima da flor

Tombando silenciosa e triste como a dor!

Minh'alma é a flor que chora, o pranto a deslisar.



É a pétala que resvala aos poucos, silenciosa...

Quem foi jamais contar as pétalas duma rosa?

Jesus, meu sonho, é como a flor me desfolhar!
 

(1931)

Obs.: No original, Madre Gema usa sempre a grafia "pét'ala", para que seus versos sejam rigorosamente alexandrinos. Achamos que tal zelo não agradaria ao leitor moderno.


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