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Teresinha e a Oração do Pai Nosso

Santa Teresinha viveu sua relação com Deus orando e vivendo o Pai Nosso. Uma graciosa confidência nos serve de preâmbulo para este tema: “Às vezes, quando meu espírito está tão árido que me é impossível ter um só pensamento que me una Deus, rezo vagarosamente um ‘Pai Nosso’, e em seguida a saudação angélica. Essas orações me encantam e alimentam minha alma muito mais que se as rezasse rapidamente uma centena de vezes” (MB 25).

Ela mesma reconhece ser dotada de uma espantosa aptidão para a pedagogia espiritual. Não só orará e viverá o Pai Nosso, como ensiná-lo-á a todos que o solicitem. Suas noviças e os seminaristas com os quais se corresponde pedem-lhe o segredo de seu dinamismo e de sua estupenda segurança. Questionada por uma noviça sobre quem lhe ensinou o pequeno caminho do amor que dilata seu coração, ela responderá sem pestanejar: Jesus! Foi Jesus. Somente Ele.

A maior intuição de Teresinha foi a descoberta de sua condição de filha pequena diante do Pai. Este foi o grande presente que ela deu a Jesus. Daí seu insistente convite a que não permaneçam nos problemas pessoais nem se contentem em viver para si mesmos.

Teresa esquadrinhará apaixonadamente o rosto do Amor. Na seleção de textos bíblicos que lhe envia sua irmã Celina, descobre dois tesouros que vão jogá-la no oceano da bondade de Deus: “Quem se fizer pequenino, venha a mim” (Prov 9,4) e “como uma mãe acaricia seu filho, assim consolá-los-ei; vou carregá-los em meus braços e sobre meus joelhos vocês serão embalados (Is 66, 12-13). Aí está sua grande descoberta: um pequeno caminho todo novo, que não leva ao infantilismo, mas ao espírito de filiação.

Assim Teresinha se dispõe a viver e orar o Pai Nosso: conjugando sua pequenez à grandeza de seu Deus Pai.

Santificado seja vosso nome:

Santificar o nome de Deus é reconhecer sua glória manifesta em seu filho Jesus. Teresinha descobre que a melhor forma de glorificar o Pai consiste em “amar Jesus e fazê-lo amado”; esta frase é um verdadeiro estribilho em suas cartas. Dar glória a Deus é a agradá-lo. E confessa: “Creio que nunca passei três minutos sem pensar em Deus”. Trabalhará para viver em paz e harmonia interior, como os meios nos quais Deus se reflete. A tensão e a divisão interior, ensinará a sua noviças, não glorificam a Deus.

Venha a nós o vosso reino:

“Compreendo e sei por experiência que o ‘reino dos céus está dentro de nós’. Jesus não tem necessidade de livros nem de doutores para instruir as almas. O Doutor dos doutores ensina sem ruído de palavras” (MA 83). O mestre a converte em missionária. O título de “Padroeira das Missões” diz tudo. Teresinha orientou sua oração à missão, sua vida de comunidade, seu sofrimento: “Nunca imaginei que pudesse sofrer tanto. Não posso explicar isto, a não ser pelos meus ardentes desejos de salvar almas” (UP 30,9). Movida pelo desejo de que a presença salvadora de Deus se instaure onde reina o mal, não hesitará em sentar-se, como Jesus, à mesa dos pecadores para aí passar a árdua noite da fé. Por outro lado, tem pressa de que suas irmãs de comunidade adentrem no horizonte do Reino.

Seja feita a vossa vontade:

Reconhece que Deus a salvou do círculo estreito em que dava voltas e mais voltas, sem acertar a saída (MA 45). Teresinha, ao descobrir que é totalmente incapaz de santificar-se por si mesma, deixa que Deus atue nela, e se abandona confiantemente à sua ação divina. Deixa Deus ser Deus. E o faz oferecendo-se ao Amor Misericordioso. Nesse abandono confiante descobre que a vontade de Deus é um verdadeiro intercâmbio de amor entre Deus e a criatura.

O Pão nosso de cada dia nos dai hoje:

Teresinha luta bravamente para que o pão da Eucaristia possa ser comungado pelos corações diariamente e todos possam experimentar o beijo de amor de Jesus (MA 4,35). Pedir o pão é fazer-se pequena e pobre, porque sabe que “até nas casas dos pobres se dá ao menino tudo o que ele necessita” (UP 6.8.8) e também viver o momento presente, sem se deixar abater. Nas dificuldades põe toda sua confiança em Deus. Ensina suas irmãs a não fazer as coisas com esforço excessivo, a não se atormentar nos trabalhos, mas tudo fazer com a liberdade do espírito (UP 14.7.1). Quando lhe confiam a tarefa de guiar as noviças, se coloca nos braços de Deus como uma criança. Tudo que recebeu de graça coloca gratuitamente a serviço dos outros:”Se me ocorre pensar e dizer algo que agrade minhas irmãs, parece-me completamente natural que se apropriem disso como de um bem próprio. Este pensamento pertence ao Espírito Santo e não a mim”. (MC 19v). Assim Teresinha vive o “pão nosso”.

Perdoai-nos as nossas ofensas:

O encontro com o pecado e a fraqueza, pessoal e os alheios, conduz Teresinha a descobrir de forma mais profunda o rosto de Deus. Vive o pecado como ocasião para mais amar a Deus. Comentando o texto de Lc 7,47 dirá que não somente é preciso amar aqueles a quem muito se tenha perdoado; “A mim Jesus perdoou muito mais que a Santa Maria Madalena, pois me perdoou adiantadamente, impedindo-me de cair”MA 38). Outra forma de viver esta petição consiste em não cair na tristeza que surge quando ela descobre suas deficiências. Neste sentido dará seus conselhos: “Se te acham sempre imperfeita, que maravilha, esta é tua maior riqueza... Se te julgam pouco virtuosa, que importa? Isto não te tira nada nem te faz mais pobre”. Teresinha não fecha os olhos ante às misérias que as irmãs vão descobrindo em si mesmas, mas enfatiza essas misérias à luz da fé, dizendo-lhes que sua pobreza é uma razão a mais para olhar o amor: “Agora compreendo que a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, em não escandalizar-se de suas fraquezas, em se edificar com os menores atos de virtude que se lhes vê praticar”. Vemos aí uma refinada forma de perdão.

Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal:

Teresinha afirma que a tentação serve para fazer brilhar a virtude da fé. E não está falando porque ouviu falar a este respeito. Em muitos momentos de sua vida foi provada, tentada. A noite do nada assaltou insistentemente sua alma. Aprendeu a viver sem sentir o amor nem a fé. “Cada vez que queremos amar, já estamos amando”. Ao final da vida enfrentou duras tentações contra a fé. Pensou, inclusive, em acabar com a própria vida. Mas resistiu bravamente a tudo que a afastasse da fidelidade ao seu Esposo.

Amém

Como uma criança nos braços de sua mãe, assim Teresa se sente nos braços de Deus: “Deus não me abandonará. Nunca me abandonou”. Suas últimas palavras, recolhidas pela comunidade, foram um amém solene: “Meu Deus, amo-vos!” O amor é sua segurança e seu amém. A partir daí exclama sua mais íntima confidência: “Não me arrependo de me haver entregue ao Amor”, para que todos os que se aproximem dela comecem a viver a aventura do Pai Nosso e se abandonem confiantemente ao Pai de Misericórdia.

(Adaptado do verbete “Padrenuestro”, da obra “Santa Teresa de Lisieux, Diccionario, Editorial Monte Carmelo, Burgos)
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