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Gallipoli

Maravilhosa Intervenção de Santa Teresinha em favor do Carmelo de Gallipoli

-Itália, 1910-


O Carmelo de Gallipoli (Itália Meridional), nos inícios de 1910, estava reduzido a miséria extrema. A pobreza material era tamanha que as Irmãs tinham apenas um quilo de pão semanal para cada uma e um pouco de massa na mesma proporção. Às vezes, quando não tinham nada para comer, à hora das refeições, as Carmelitas se dirigiam ao coro para rezar. Contudo, apesar de tantas privações, inevitáveis dívidas precisavam ser feitas, e, em meados de janeiro, a dívida era superior a 300 francos, e elas só possuíam 7 centavos.

Então a Revma. Madre Priora teve a inspiração de fazer um tríduo de orações em honra da Santíssima Trindade, tendo como intercessora Irmã Teresa do Menino Jesus, cuja vida fora lida em comunidade havia alguns meses.

Este tríduo terminaria no dia 16 de janeiro, festa do Santo Nome de Jesus.

"Na noite de 16 de janeiro," conta-nos a Reverenda Madre Priora do Mosteiro, Madre Carmela do Coração de Jesus ", eu me encontrava angustiada e preocupada... Há pouco tinham soado três horas; quase esgotada, levantei-me de minha cama para respirar melhor; em seguida, tendo adormecido, me senti tocada por uma mão que colocava a coberta em meu rosto com ternura. Acreditei que uma de minhas filhas tinha-me feito esta caridade, e, de olhos fechados, eu lhe disse: “Deixe-me, pois este movimento está me trazendo muito ar”. Então, uma voz doce e desconhecida me disse: “Não, eu fiz uma coisa muito boa.” E, continuando a me cobrir: “Escutai... o bom Deus se serve dos habitantes do Céu como dos da terra para socorrer seus servos. Aqui tendes quinhentos francos com os quais pagareis a dívida de vossa comunidade.”

“Respondi que a dívida era de apenas 300 francos. Ela replicou:"Está bem, o resto será uma sobra. Mas, como não podeis guardar este dinheiro na cela, vinde aqui comigo."A celeste visão acrescentou, sorrindo:"Seremos bilocadas e isto será de grande ajuda para nós”. 

“Enquanto eu ia para fora de minha cela acompanhada desta jovem Irmã carmelita, seu hábito e seu véu deixavam transparecer uma luminosidade celestial, que servia para clarear nosso caminho.

Ela me levou para baixo, à sala da roda, me fez abrir uma caixinha de madeira onde havia a escrita da comunidade, e aí depositou os 500 francos. Contemplei-a com alegre admiração e me inclinei para agradecê-la, dizendo: “Ó minha santa Mãe”!... [i] Ela, porém, ajudando-me a levantar e acariciando-me com afeição, prosseguiu: “Não, eu não sou nossa santa Mãe, EU SOU A SERVA DE DEUS, IRMÃ TERESA DE LISIEUX. Hoje, no céu e na terra se celebra o santo Nome de Jesus...” E eu, emocionada, perturbada, nem sabia o que dizer, exclamei, mais com o coração que com os lábios: “Ó minha Mãe!...” Porém não pude continuar. Então, Irmã, que parecia um anjo, após tocar meu véu para ajeitá-lo e assim me fazer um carinho fraternal, afasta-se lentamente: “Esperai, eu lhe disse, podereis errar o caminho!” Com um sorriso celestial ela me respondeu: “Não, não, meu caminho está certo e eu não me enganei seguindo-o...”

"Eu fiquei pensando naquilo tudo e, pela manhã, apesar de meu cansaço, levantei-me e fui ao Coro e recebi a santa Comunhão".

As Irmãs me olharam, percebendo algo de diferente em mim. As duas sacristãs muito insistiram para saber o que ocorrera comigo. Eu lhes disse que a sensação de um sonho havia me deixado muito emocionada e lhes contei com toda simplicidade o que havia acontecido.

“Estas duas religiosas me apressaram então para ir abrir a caixinha, mas lhes adiantei que não precisavam acreditar em meu sonho. Enfim, diante de seus pedidos, fiz o que elas queriam: eu fui à torre e abri a caixa... e lá encontrei realmente a miraculosa soma de quinhentos francos!

E não fiicaram por aí os maravilhosos auxílios que a nova Santa Teresa dignou-se favorecer suas irmãs carentes de Gallipolli. Este 16 de janeiro foi o ponto de partida de uma série de prodígios do mesmo gênero. Mensalmente trazia-lhes um excedente de sua receita mensal (anotada fielmente, a cada dia, no livro de contabilidade), que variava entre 25 e 50 liras. Finalmente, na madrugada de 6 de outubro, a Santinha entrega à Madre Priora uma nota de cem francos, dizendo-lhe: “que a força de Deus tire ou dê com a mesma facilidade nas coisas temporais, tanto quanto nas coisas espirituais”.

Isto foi tudo que aconteceu até o dia 16 de janeiro de 1911. Neste dia, Teresa ia, através de um prodígio, cujo alcance sobrenatural era tão grande, poria um sinal na interpretação totalmente espiritual, que conviria em dar sua resposta à Madre Carmela: “Meu caminho é seguro, não me enganei seguindo-o”.

Tal era, efetivamente, a opinião do Dom Giannattasio, bispo de Nardo, perto de Gallipoli, que estudara com atenção a vida de Irmã Teresa do Menino Jesus e sua intervenção do dia 16 de janeiro de 1910. Ele sustentou seu juízo sobre a promessa que a Santa fizera outrora a suas noviças: “Eu voltarei para vos dizer se me enganei OU SE MEU CAMINHO É SEGURO...”, e também sobre o fato de que a expressão “seguir uma via”, no sentido figurado, somente se emprega na língua italiana.

Para obter, ele mesmo, da própria Teresa, a confirmação clara desta interpretação, o piedoso prelado decidiu festejar o aniversário de sua primeira aparição, e lhe perguntar em troca uma resposta formal que ele se permitiu fazer.

Conseqüentemente, o Mons. Giannattasio pegou uma nota de 500 liras e a colocou num envelope com seu cartão de visita no qual ele escrevera: “Minha via é segura, eu não me enganei”. Este envelope, tendo ficado aberto, foi lacrado dentro de um maior, num resistente papel inglês , dobrado em seu interior. Depois de tê-lo cuidadosamente colado, o bispo de Nardo colocou um carimbo de cera com suas armas. Depois a remeteu sem grandes explicações à Revma. Madre Carmela com a recomendação, escrita e oral, de colocar o tal envelope na famosa caixinha onde Irmã Teresa tinha colocado as 500 liras e de deixa-la até o dia 16 de janeiro quando ela deveria abri-la.

Isso aconteceu nos últimos dias de dezembro.

Antes do dia 16 de janeiro, a Revma. Madre Priora, tendo aberto a caixinha , julgou ter percebido que o envelope havia aumentado de tamanho; ela pressentiu um novo milagre; assim, quando chega o dia 16, ela se priva de abrir sozinha o envelope.

O bispo de Nardo indo ao parlatório , a Priora o encontra com o envelope selado em mãos. O prelado pede que ela abra o envelope, acompanhando seu gesto através da grade. Quando a Revma. Priora já havia aberto a parte superior do envelope, ela o entrega ao Dom para que ele retire o conteúdo.

Mas, qual não foi a surpresa de ambos quando constataram que junto à nota de 500 liras se encontravam mais quatro notas: duas de 100 liras e duas de 50, o que perfazia 300 liras. Ao examiná-las, Dom Giannattasio apercebeu-se que uma delas exalava um perfume de rosas.

Só neste momento, Sua Excelência explicou à Madre Priora o que ele fizera, e a grande importância que ele dava ao milagre diante dela constatado. Assim, a Serva de Deus parecia querer confirmar, por este prodígio, o sentido espiritual de sua expressão: “Minha via é segura”... 

(Tradução livre do original francês, da obra "Pluie de Roses – 96 tableaux", publicado em Lisieux pelo Office Central, com imprimatur assinado na Cúria de Bayeux no dia 9 de janeiro de 1928, pp. 60-73)

Obs.: A aparição da Santa à Madre Carmela aparece num dos vitrais da Capela da Urna no Carmelo de Lisieux.

[i] A Reverenda Madre pensava estar diante de Santa Teresa d´Ávila.

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