Visão Geral

Carmelo significa "jardim". Geograficamente, é uma cadeia de colinas, próximo à atual cidade de Haifa (antiga Porfíria), em Israel. Os fenícios haviam erguido ali um altar a Baal, invocando proteção para suas viagens. O culto a esse deus profanado pela ímpia Jerusalém, esposa do Rei Acab, recebeu a forte oposição do profeta Elias.

Diz a tradição que Elias se estabeleceu em uma gruta, no Monte Carmelo. Tornou-se ele o grande solitário que, em espírito de penitência, combateu os profetas pagãos e defendeu o monoteísmo. Ao Carmelo também acorreu a Sunamita para pedir ao profeta Eliseu para ressuscitar seu filho.

Origens

O Carmelo surgiu em plena Idade Média, época de renovação da Igreja e de busca da mais pura dimensão evangélica de vida religiosa. As Cruzadas e a conquista de Jerusalém, em 1099, abrem a rota das grandes comunicações entre a Europa e o Oriente. Estamos no fim do século XII. A humanidade vive a experiência de grandes alterações

sociais e espirituais. Igrejas e mosteiros são reedificados. Príncipes e fiéis fazem doações financeiras generosas. Homens e mulheres, inflamados pelo amor ao serviço divino, procuram novos rumos de vida. Atraídos pela fama dos Lugares Santos, afluem à Palestina, sob influência européia, peregrinos das mais diversas partes do mundo. Uns vão para o deserto, outros para as colinas, todos imbuídos do mesmo espírito de penitência e oração. A vida contemplativa e eremítica é escolhida, com singular empenho. Assim, também, chegam ao Monte Carmelo, por volta do ano 1190, os que desejam seguir o exemplo do homem santo e solitário que foi o profeta Elias.

Sabe-se que os primeiros ocidentais a se estabelecerem, como eremitas, no Monte Carmelo, tinham participado das Cruzadas. Eram nobres ou plebeus, cavaleiros ou soldados, todos leigos que haviam escolhido uma vida de "penitentes" ou "conversos". Uns se localizam próximo à gruta de Elias, outros perto da fonte de Elias. Todos vivendo em cavernas, separados uns dos outros. Manuscritos da época referem-se a esses "monges latinos", também chamados Irmãos do Carmelo, os quais se estabelec

em perto de uma capela de Nossa Senhora, não longe da Abadia de Santa Margarida na vertente do mesmo Monte Carmelo. Mais tarde, serão esses monges chamados de Irmãos da Ordem da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.

Os Carmelitas, que viviam no Monte Carmelo, pediram a Santo Alberto para fazer uma Regra, de acordo com o modo de vida que estavam levando. Santo Alberto foi nomeado Patriarca de Jerusalém, em 1214. Calcula-se ter sido a Regra entregue em 1209. Nessa época, o superior do Monte Carmelo era São Brocardo. A Regra primitiva foi dada a eremitas, razão por que tem espírito eremítico. Pode-se dizer que ela se constitui numa perfeita codificação do tipo de vida que os Irmãos Carmelitas já levavam no Monte Carmelo: solidão, oração, obediência, castidade, jejum e abstinência de carnes. A Regra foi aprovada em 1226 pelo Papa Honório III.

A partir de 1237, as condições políticas e religiosas, na Palestina, se tornam precárias, devido às investidas dos sarracenos. Este fato fez com que os eremitas do Carmelo, pouco a pouco, devidamente autorizados, voltassem a seus países de origem. Os religiosos, que continuaram no Monte Carmelo, foram massacrados em 1291, quando se deu a destruição das últimas fortificações latinas na Terra Santa. Surgem, na Europa, os primeiros conventos: Messina, Huine, e Cambridge, todos verdadeiros eremitérios, constituídos segundo a regra de Santo Alberto, de vida solitária e contemplativa. A evolução dos tempos, porém, faz com que a Ordem do Carmelo seja equiparada às Ordens Mendicantes. A Regra é modificada. Seus membros são destinados à vida ativa de apostolado da Igreja, podendo cursar universidades e receber o sacerdócio. Em 1245, realiza-se em Aylesford, um dos primeiros conventos, o primeiro Capítulo Geral da Ordem, sendo eleito Superior Geral o inglês Simão Stock. Em 1247, Inocêncio IV aprova a Regra, revisada e adaptada às novas circunstâncias de existência da Ordem.

Expansão e Reforma

Durante três séculos, a Ordem se expande com a fundação de grande número de mosteiros do ramo masculino e do ramo feminino. Em 1562, Santa Teresa funda um mosteiro em Ávila (Espanha), segundo seu pensamento de fazer aí florescer um ideal carmelitano mais autêntico, pela volta ao exercício da contemplação.

J. B. Rossi, Superior geral da Ordem, também movido pelo espírito reformador, encoraja Teresa a fundar outros mosteiros femininos. Também favorece as tentativas de vida interior mais intensas desenvolvidas pelos frades, tanto na Itália quanto na Espanha. Segundo o exemplo da santa, Rossi permite a abertura de dois conventos masculinos de "contemplativos", número que se multiplica em pouco tempo.

Em 1568, graças à cooperação entre Teresa e João da Cruz, é fundado o primeiro convento dos Descalços. Em 1593, fica constituída a divisão dos Carmelitas em Calçados, ou da Antiga Observância, e em Descalços ou Teresianos. Essa separação, que não impediu uma salutar renovação da própria espiritualidade, estende-se até os dias de hoje. Cada ramo com um Superior diferente. A obra de Santa Teresa e de São João da Cruz, no campo da espiritualidade carmelitana, encontrou uma correspondência no movimento chamado "da mais estrita observância", que floresceu durante os séculos XVII e XVIII e procurou evitar os efeitos negativos da separação. Philipe Thibault, que viveu com os Descalços, foi o introdutor da Reforma Turonense (iniciada na Província Carmelita de Tourain, França), a partir de 1619. Esta renovou o espírito contemplativo na Ordem, pela prática da meditação diária, do silêncio e da mortificação, restaurando-se, assim, a perfeição da vida comunitária.

O Carmelo Descalço no Brasil

A história do Carmelo Descalço em terras brasileiras encontra-se ligada à pessoa da Sra. Jacinta Ayres, filha de José Rodrigues Ayres, natural do Porto, e Maria de Lemos Pereira, do Rio de Janeiro. Nasceu aos 15 de outubro de 1715, festa de Santa Teresa de Jesus. Jacinta e sua irmã Francisca sentiram-se chamadas por Deus para a Vida Religiosa. Não tendo conventos no Brasil, seu padrasto requereu a licença de D. João V, rei de Portugal de irem a Lisboa, e ali escolherem o Convento e a Ordem que mais lhes agradasse. Quando tudo estava pronto, conversando com sua irmã sobre a longa viagem, Jacinta foi repentinamente acometida de forte acidente, caindo no chão e deslocando um quadril. Ficou impossibilitada de viajar.

Recobrando a saúde continuou a acalentar seu sonho. Eis que, um dia, voltando da Ermida do Desterro, onde costumava rezar, teve a inspiração de escolher naqueles arredores um lugar solitário, para ali com sua irmã e mais jovens que quisessem, viver segundo uma regra. Escolheu a Chácara da Bica, lugar deserto e solitário. Jacinta passou a viver numa casa que havia ali, depois de consertá-la. Sua irmã seguiu-a. Passaram a chamar-se Jacinta de São José e Francisca de Jesus Maria. A pequena casa ficou transformada em convento. Numa pequena sala, que lhes servia de coro, faziam a oração mental e rezavam o Ofício de Nossa Senhora.

Jacinta nunca tinha visto nem freira, nem convento, no entanto procedia como se tudo isto lhe fosse familiar. Deus a havia escolhido para ser a primeira discípula de Santa Teresa na América do Sul. No ano seguinte a 31 de Dezembro é inaugurada a Capela que dedicaram ao Menino Deus. Acolhendo ao conselho de Frei Manoel de Jesus, carmelita, começaram a viver desde logo a Regra do Carmo e as Constituições de Santa Teresa. Contavam com o apoio de Bispo D. Frei João da Cruz, também carmelita. Passaram-se assim seis anos. Aos poucos juntaram-se a elas outras jovens da cidade. Tinham recebido do bispo a licença de usar o hábito carmelitano. Com a aprovação do novo Bispo D. Frei Antônio do Desterro e a permissão do Governador Gomes Freire de Andrade, construíram o Convento de Santa Teresa. No dia 24 de junho de 1752, Madre Jacinta e sua comunidade passaram a viver na nova casa: Convento Santa Teresa. Deste Carmelo foram fundados muitos outros Carmelos no Brasil.